Façam um Intervalo e deixem-me contar-vos uma História
Façam um Intervalo e deixem-me contar-vos uma História
Há dias quando ia na minha caminhada,
deparei-me com dois miúdos, aí talvez com onze ou doze anos, zangados e já a
agredirem-se mutuamente, fiquei de longe a observar, porque se existe coisa que
eu não gosto é-me intrometer e menos ainda com miúdos pois sei que levo logo
que contar, mas como achei que eles estavam a ir longe demais, fui na direcção
deles e comecei a chamar-lhes a atenção, escusado será dizer, que me chamaram
tudo, menos mãe e mandaram-me para todos os sítios cujos nomes eles sabiam, eu
disse-lhes, olhem podem chamar o que quiserem que não me pesa nada e não vou a
lado nenhum porque não quero, só quero que vocês façam um intervalo e me deixem
contar-vos uma história, se concordarem a seguir vamos ao café comer um bolo
cada um e beber uma bebida, eu bebo café e vocês bebem o que quiserem, a
conversa mudou logo de figura, então veio a história, que não é ficção foi
mesmo realidade por mais estranho que pareça.
Há muitos anos aqui na Póvoa, já foi há
mais de cinquenta, dois miúdos que eram vizinhos e amigos envolveram-se à porrada, e estavam a assistir vários
adultos que em vez de os separar ainda os incentivavam, e até batiam palmas,
até que um deles caiu morto no chão, não importa agora se algumas das pessoas
que estavam assistir eram familiares da vitima ou do agressor, porque ali foram
os dois vitimas daqueles adultos, o certo é que um morreu ali e o outro viveu
mais uns anos sempre entregue ao remorso, ainda chegou a trabalhar, mas não
conseguia viver em paz, até que acabou por morrer um jovem ainda, não suportou
o peso que aqueles adultos lhe deixaram sobre os ombros, como estão a perceber
foi só por isto que eu vos pedi para fazerem um intervalo, resultado fomos os
três ao café e «parece-me “que ganhei dois amigos, hoje aconteceu que de novo
na minha caminhada fui abordada por um casal que eu nem conhecia e que me
vieram agradecer a lição que tinha dado ao filho, mas até pensando que era
invenção minha para os separar, quando eu lhes disse que era a pura verdade,
nem queriam acreditar, são as tais verdades que nos custam a acreditar e que
nos fazem mal à alma, e eu como tinha a mania de escrever passei para o papel a
revolta que senti naquele dia.
Há gente que é gente só porque tem nome
Não merece nada, nem o chão que pisa
Nem o pão que come.
Mas que gente é esta, o que é isto afinal
Não se tem cabeça, para ver a diferença
Entre o bem e o mal?
Como pode ser, quem é que não viu
Como é que deixaram isto acontecer
Como é que deixaram um inocente morrer.
Qual foi o prazer, de assistir ao acto
E nada fazer.
Mas que gente é esta, que ficou parada
E se estava a rir, à espera de ver
Um perder as forças e morto cair
Se isto é ser gente, e eu vou ser assim
Prefiro ser bicho.
Não quero ser gente
Prefiro morrer.
Não merece nada, nem o chão que pisa
Nem o pão que come.
Mas que gente é esta, o que é isto afinal
Não se tem cabeça, para ver a diferença
Entre o bem e o mal?
Como pode ser, quem é que não viu
Como é que deixaram isto acontecer
Como é que deixaram um inocente morrer.
Qual foi o prazer, de assistir ao acto
E nada fazer.
Mas que gente é esta, que ficou parada
E se estava a rir, à espera de ver
Um perder as forças e morto cair
Se isto é ser gente, e eu vou ser assim
Prefiro ser bicho.
Não quero ser gente
Prefiro morrer.
Infelizmente esta história
não foi inventada, mas hoje ao ser abordada por este casal, senti-me feliz ao
ver aqueles pais tão agradecidos, senti que não foi em vão os momentos que
passei a ouvir os nomes feios que aqueles miúdos me chamaram.
Uma boa noite para todos, muito obrigada pela vossa companhia. Bem Hajam.
Uma boa noite para todos, muito obrigada pela vossa companhia. Bem Hajam.
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