Minha aldeia é tão pequena


Muito cedo comecei a ouvir a minha Mãe dizer que: uma mulher em casa, tem sempre trabalho para fazer. É verdade, mas hoje, Mãe, desculpa, mas não estou para aí virada, fiz o que era necessário, e agora não me apetece fazer nada. Nem malha, nem renda, nem limpar o pó, nadica de nada, pronto.
Então fui dar volta ao baú, e aqui estou para passar uns minutos convosco.
Trago uma "redacção" escrita na quarta classe, depois da Dona Norvinda nos perguntar a razão de existirem tantos nomes para a mesma aldeia, como já gostava de escrever em verso perguntei se podia ser assim, ela adorou, eu fiquei toda vaidosa.
Mais tarde escrevi outra já com os nomes das ruas, um dia destes trago essa.



Minha aldeia é tão pequena
Mas parece uma cidade
Cada canto tem um nome
Acreditem que é verdade
Mesmo no centro da aldeia
O largo das três capelas
Em duas vende-se vinho
Na outra acendem velas
Uma dessas capelinhas
É da Ti Maria Trocata.
Vende vinho e almoços
Têm sempre uma mesa farta
A outra é do Zé da Saca
Também lhe chamam Saquinha
Também faz os seus petiscos
Diz que tem boa pinguinha
Quase a chegar à Charneca
Ficam mesmo na subida
O Casal do Toucinho
E o da Ti Maria Comprida
Temos o Casal Diabo
Que dizem ser feiticeiro
De noite dançam as bruxas
Sempre à volta do pinheiro
O Moinho do Carvalho.
Antes da Ponte das Voltas
A seguir o Arneiro
E a rua das Pedras Soltas
Póvoa de Cima e de Baixo
Nenhum nome foi em vão
A seguir ao Maroucinho
Fica logo o Val-Vagão
Ainda temos o Barronco
Que dizem os meus vizinhos
De noite passeiam lá
Uma porca com pintainhos.
Temos a Quinta da Mata.
Com as grutas e morcegos
Alguns são tão pequeninos
Que parecem ratos cegos.
O Casal dos Apóstolos
Logo a seguir ao Açude
Com suas águas tão limpas
Espero que isto não mude
Tanto casal tanto nome
Onde é que isto vai parar
É a terra que eu adoro
Agora vou terminar.
Isto de nascer em 1951 dá nisto, muitos Invérnos, muitas lembranças, saudades?

Não, a vida é para viver, tudo tem o seu tempo, nunca gostei de ouvir as pessoas da minha idade dizer: que no seu tempo assim, no seu tempo assado. Cada época tem a sua vivência, éramos felizes com pouco, porque não tinha-mos mais, tal como hoje.

Respeito e educação, era a que nos davam em casa, tal como hoje.
Assim passei mais uns momentos convosco, muito obrigada pela vossa companhia.

Vamos continuar a nossa luta contra este inimigo invisível e traiçoeiro que espreita a cada esquina, vamos ter esperança e acreditar que o sol vai voltar a brilhar.

Bem-Hajam meus amigos. Até logo.





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