Os Sapatos Baratos
Boa noite amigos estou de volta, com o meu velho caderno de recordações,
hoje chama-se diário, e estou aqui primeiro para me ajudar a passar a noite que
é muito longa, e segundo porque tenho umas amigas, que dizem que as habituei mal,
agora não querem dormir sem ler qualquer coisa minha, há pois é minhas meninas
tenho que vos pôr a passar a máquina estas folhas velhas, hoje o que vou contar,
podem os amigos chamar esperteza saloia, pois no tempo em que não havia centros
comerciais, nem lojas de chineses, era á feira da Malveira que íamos às compras,
nesse tempo havia as camionetes do Isidoro Duarte de hora a hora, e sempre
cheias de gente, hoje se não me engano só há duas e vão vazias, outros tempos,
e então eu fui comprar uns sapatos á feira, e tanto escolhi, que acabei por
trazer os dois do mesmo pé, porque nessa época os feirantes não tinham mãos a medir,
quando chegava o Verão, vinham as festas, faziam muito negócio, e não podiam
dar tanta atenção, e eu é que fui culpada, mas também eu é que ouvi ralhar.
Os sapatos baratos
Fui á feira da Malveira
para comprar uns sapatos
como o dinheiro não abunda
tenho que ir aos mais baratos.
Encontrei o que queria
fiz minha escolha a preceito
mas quando cheguei a casa
eram os dois do pé direito.
Minha mãe ralha comigo
tens a cabeça no ar
para a semana lá volto
para os sapatos trocar.
Lá vou eu toda lampeira
mas ia cheia de medo
que alguém tivesse levado
os outros do pé esquerdo.
Quando cheguei á bancada
diz o vendedor espantado
eu peço muita desculpa
mais alguém foi enganado.
Tive que ficar á espera
que outra queixosa apareça
e minha mãe continua
a chatear-me a cabeça
Três viagens á Malveira
eu acabei por pagar
bem carotes afinal
os sapatos vão ficar.
Serviu isto de lição
nunca mais fiz outra igual
calço sempre os dois sapatos
que é para não correr mal.
Agora amigos e por ter falado na esperteza saloias, vou
transcrever uns versos, que fizeram parte de um quadro de revista, cantados
pela minha vizinha, a grande Beatriz Costa, e vou faze-lo na linguagem original,
tal como ela fazia, e vêm nos folhetos da época, sim porque os saloios, agora
já quase não se nota, mas tinha-mos direito a um quase dialecto, quem vinha de
Lisboa para cá ´só não tinha que arranjar um dicionário porque não havia á venda,
senão vejamos.
chigou a casa era um boi
a nha mãe ficou zangada
o mê pai diz na faz mal
e gritou todo trombudo
ó melher
moge lá esse animal
quim Lesboa bebem tudo.
Agora quantos de vós não perceberam? mas a culpa não é minha
está igual ao folheto que eu ainda mantenho ,isto era a verdadeira revista á
portuguesa ,claro que já não é do meu tempo ,mas que era bom não se pode negar.
Vou terminar já devem estar fartos da minha escrita, uma boa noite para todos,
com saúde e paz.
20 de Dezembro 2017
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