Dia Internacional das Alcunhas.
Diziam na rádio que hoje é o dia Internacional das alcunhas.
Vejam bem os anos que eu andei"
enganada" a pensar que isso era exclusivo da minha terra.
Pois é, há mais de cinquenta anos eu
escrevi estes versos, apenas com a intenção de não me esquecer da grande
variedade de alcunhas que existiam por aqui. Hoje já nem tanto, mas lembro-me
perfeitamente que por vezes se alguém perguntava pelo nome próprio da pessoa,
ninguém sabia quem era, de tal modo estava enraizado o hábito das alcunhas.
Além das que escrevi nessa altura vou
acrescentar duas muitos especiais, uma de um sobrinho que não era "sonhado
"na época em que eu escrevi os versos, mas sei que vai gostar de ser
lembrado aqui, a outra de um grande amigo que já não se encontra entre nós, e
com quem eu passei longas horas de boa disposição, de desabafos de partilhas,
um amigo com quem certamente, no meu tempo de café, conversei mais com ele do
que com os meus irmãos.
Vamos então às famosas alcunhas, fazendo
justiça ao dia que lhe é dedicado.
Não sei que mania é esta
Que há aqui na minha aldeia
Toda a gente tem alcunhas
De quem seria esta ideia?
Tanto nome tão esquisito
Que eu estou aqui a pensar
Vou passá-los pró papel
Para mais tarde recordar
Ao meu pai chamam Líbano
Meu avô é o Plintra
Meu irmão é o Façanhas
Um nome com muita pinta
Tenho um tio que é o Pansa
A outro, chamam Boneco
O vizinho mesmo ao lado
Todos tratam por Marreco
Nem as senhoras escapam
Às alcunhas, que ironia
Há uma Gata Gulosa
E outra que é Bezerria
Na quinta do Val-Vagão
Está a dona Mariquinhas
As primas moram ao lado
São tratadas por Pinguinhas.
Uma Emília, outra Conceição.
Duas senhoras bonitas
Não sei porque carga de água
A ambas chamam de Quitas.
Perto de mim uns irmãos
Com alcunha dos Capados
Já têm filhos e netos
Estão todos bem casados
Mais abaixo o Ti Pexinho
Casado com a Ti Miloca
Perto deles mora a Micas
Ao filho chamam-lhe Moca
Há o Peles
e o Calor
Lá pertinho é o Marreta
E já na Póvoa de Baixo
A família do Pirreta
A família dos Mauzinhos
Que não faz mal a ninguém
Na mesma rua os Caseiros
E moram os Frade também
Temos lá perto um Sobreira
Um
Pipa e um Tareta
Um outro que é o Bicho
E à ainda o Careta.
Há o Mocho
e o Pitra
E bem pertinho o Portela
Mais abaixo mora o Cristo
E depois é o Grandela.
Candongas e Trovoadas
E ainda muitos mais
Quase à saída da Póvoa
Os Leiteiros
e os Pardais.
Temos o Escangalha Botas
O Gato
e até um Rato
O Xarela
e o Lucha
E um que é Rabo-lagarto.
Ralaças e Pica-Atada
Também vão entrar no rol
Ao lado da Marrassana
A família Caracol.
O
Coça e o Fandango
O Boa-noite,
e o Moleiro
O Bandinhas
e a Maria Alegre
Que mora no Arneiro.
O Fumaças, os Joanas
Lá perto deles o Espantado
Ao fundo da minha rua
Mora o Ti Joaquim Cagado.
O Bailão
e a Gaiteira
O Quital
e o Barimbau
A quem não mata uma mosca
Chamaram-lhe o Zé-Mau.
O Marmitas
e o Cabra
Mais abaixo é o Ralão
E a família do Balhestro
Que mora no Val Vagão
O Asa
Curta o Parola
O Pala
e a Cutetas
O meu padrinho é Chapim
E lá perto os Rabetas.
Aos ricos chamam senhores
Parece até que são nobres
Estas alcunhas sem graça
São sempre dadas aos pobres.
Até mesmo na escola
Há uma "diferençazinha"
As pobres só têm um nome
As outras........
São todas "inhas".
Não percebo nada disto
E já não quero entender
Era assim quando nasci
Vai continuar a ser.
Tanto nome e tanta alcunha
Onde é que isto vai parar
As alcunhas não acabam
Mas vou ter que acabar.
Agora as duas que vão fazer parte deste
rol.
Também entram para o rol
Este grande amigo meu
De seu nome Artur Ribeiro.
Sua alcunha Peiroteu.
Vou lembrar o meu sobrinho
Senão sei que ele ralha
É o Armindo Simões.
Sua alcunha é o Serralha.
Meus
amigos e, assim passei mais um pouco do meu tempo na vossa companhia, espero
que gostem e que sirva para desviar um pouco a vossa atenção das notícias com
que nos bombardeiam todos os santos dias. Vamos fazer a nossa parte, com
coragem e com esperança.
Vou deixar-vos a foto de três amigos,
que lá onde estão se me estiverem a ver, vão dizer:
- Olha lá, não tens mais nada para fazer;
então essa geringonça não é para a malta nova?
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