O Amigo Evaristo
Ontem ao
conversar com um amigo, a respeito das tradições, das nossas terras, lembrei-me
de uma que os mais novos, não sabem, mas que vou contar. No tempo em que todos
se conheciam, quando morria alguém, andava pelas ruas, um homem com uma sineta
na mão a anunciar, a hora do funeral. O ultimo homem a fazer isso, foi o amigo
Evaristo.
Hoje é dele que vou falar, e contar uma das muitas histórias, que tenho para quem não o conheceu. Vou tentar descrevê-lo: era um homem bastante alto, teria um problema, que por não ser tratado, não fazia dele um louco, mas também, não se sabia orientar, muito bem.
Tinha uma força bruta, que era aproveitada, muitas vezes por patrões que lhe davam apenas uma sopa. Andou até aos quarenta e tal anos sempre descalço, primeiro por não ter sapatos, mas depois porque se habituou, e não havia quem o convence-se a usar calçado, ficou com os pés de tal forma, calejados e deformados, que lhe chamavam Pezudo. Uma vez um vizinho que ia ao norte em trabalho, mandou fazer-lhe umas botas, e lá se conseguiu calçar o amigo Evaristo. Para resumir posso dizer que ele era em grande verdade, um bom gigante, comigo no café bastava que visse o meu João a sair, que logo, vinha para dentro e dizia-lhe:
- Vai à
tua vida que eu tomo conta dela.
O certo
é que não saía enquanto ele não chega-se, tal era o sentido de protecção.
O nosso amigo Evaristo
uma
figura sem par
se não o
tratarem mal
a todos
vai respeitar.
Quando
há um funeral
com a
sineta a tocar
percorre
as ruas da aldeia
para
todos informar.
Dizendo
que ele é Pezudo
às
crianças metem medo
ele é um
coração de ouro
mas esse
é o seu segredo.
Do meu
amigo Evaristo
eu vou
contar uma história
daquelas
de fazer rir
e que
ficam na memória.
Um dia
uma senhora
que
morava num primeiro andar
pediu-lhe
que uma bilha de gás
lá acima
fosse levar.
Lá vai o
pobre Evaristo
escada
acima a suar
ela com
vinte cinco tostões
vai a
canseira pagar.
Ele
guardou o dinheiro
sempre
de boca calada
pegou na
bilha outra vez
deixou-a
ao fundo da escada.
Ele lá
fugiu a rir
ela
ficou a ralhar
isto nem
chega para um copo
quer a
bilha venha-a buscar.
À sempre
quem se aproveite
e aos
fracos faça mal
mas vai
chegar a sua hora
e o pago
vai ser igual.
Pois amigos, muitos de vós conhecem este episódio. Podia ficar um dia inteiro, falar desta figura típica da nossa terra, que a todos - ou quase todos -, deixou saudades.
Passou
pela vida, sempre alegre e sem nada em troca, um exemplo, do que não se deseja
a ninguém. Aqui ficam quatro amigos, que já não estão entre nós, mas que serão
sempre lembrados.
Momentos
partilhados, com muito carinho.
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