Nunca sabemos tudo

Quando era miúda, um dia ouvi um senhor contar um daqueles «ditotes» que se fosse hoje talvez se chamasse anedota. Eu na altura achei muita graça mas não percebi a verdadeira lição que continha, mas a vida depois fez com que eu percebesse. Dizia ele que andava um Mestre e um aprendiz a construir o mundo, e quando alguém se abeirava, o Mestre ia ensinando o seu trabalho. Um dia o aprendiz disse-lhe: Mestre se ensina tudo eles ficam a saber mais que o Mestre e assim fica sem trabalho. Resposta: descansa, quando eles pensam que já sabem tudo, eu troco-lhe as voltas. Pois é nunca sabemos tudo.

Pensava eu que sabia
dominar o que sentia
mesmo que dentro do peito
o coração bata depressa
mas mesmo assim eu dizia
aqui só manda a cabeça.
Pensava eu que sabia
que o ser, o ter, o perder
eram só verbos para ler
e que não iam mudar.
Pensava eu que sabia
que assim
que o sol se escondia
chegava a lua brilhante
trazendo uma luz constante
para iluminar a noite
embalando-me em seus braços
ser testemunha de abraços
lá do alto tudo via.
Pensava eu que sabia
que o dia
era apenas mais um dia
a outros tantos igual
mas...
de igual não tinha nada
toda a história foi mudada
Já não sei o que sabia
O sol partiu mais cedo
a noite tornou-se medo
ficou escura de breu
a lua nem se chegou
já não sei por onde andou.
porque aqui já não se via.
Já não sei o que sabia
as letras estão a mudar
eu já não quero rimar.
Já não sei o que sabia
vida rima com partida
amor já rima com dor
coração com solidão
E eu... eu ainda me iludia
mas afinal
Só pensava que sabia.


Rosa Borges Simões
Pois é amigos, quando pensamos que já sabemos tudo, vem a vida e troca-nos as voltas, a vida é isto mesmo, e não há volta a dar.

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