Eu gosto de gente de cara lavada

Para passar o tempo aqui estou a remoer com o meu baú. Hoje vou partilhar um episódio dos muitos vividos ao longo do meu tempo de «café». Pois é sobre uma senhora que um dia me disse que eu precisava de ter «um bocadinho de vaidade». Sabem porquê? Porque eu saí do balcão e vim à rua sentar-me junto de alguém que era por todos marginalizado e que estava a passar por um mau momento. Ao chegar à rua abracei-o, dei-lhe um beijinho, e a pessoa em causa «ganhou o dia» e eu fiquei muito mais rica. A dita senhora tem então o desplante de me chamar à atenção. Parei um segundo, penso que não precisei de mais, perguntei-lhe, mas não lhe dei tempo de me responder, vaidade? O que é isso? É decerto o que a senhora sente quando se lembra do dinheiro que tem no banco na Suíça, conquistado à custa dos africanos que a senhora explorou durante tantos anos? Pois é, dizemos que ficou com um «par»daqueles bem grandes. Eu fiquei feliz da vida pois disse o que sentia e fiquei a falar sozinha, que ela não me respondeu. Ficou uns tempos sem me falar mas por azar dela toda a sua família adorava o meu Sical e ela teve que engolir aquele sapo.

Como era hábito meu, passei para o papel para não me esquecer, mas por enquanto ainda não esqueci, felizmente. Já não sei o que almocei ontem mas sei o que fiz à 30 anos. Isto é que é uma cabeça, não é verdade? Estão os fusíveis trocados.


Eu gosto de gente de cara lavada
com olhos que falam, sinceros demais
que não escondem nada.
Eu gosto de gente de cara lavada
que tem sentimentos
que chora a tristeza
mas que na alegria, dá uma gargalhada.
VAIDADE... isso é o quê?
não conheço, nunca vi
ou já estou a ver mal
ou não mora por aqui.
Nem sei qual é o seu formato
não é a minha medida
não calço esse sapato.

ORGULHO... esse sim,eu sei
é até meu conhecido
pois sempre me acompanhou
no caminho percorrido
dele nunca me separo
vive bem colado em mim
a vaidade não conheço
gosto mais de ser assim.
Eu gosto de gente de cara lavada
que grita o que sente
que quando a machucam
não fica calada.
Mas o que mais gosto... que me enche o peito
é de ver o jeito que a senhora fina
fica incomodada
só porque eu gosto muito e não estou ralada
de me sentir...
gente de cara lavada.

Rosa Borges Simões

Mais uma folha desfolhada do meu caderno. Maneiras de pensar, diferentes e cada qual tem a sua opinião. Hoje não tenho nada contra a vaidade que cada um possa ter, eu é que continuo a não fazer uso dela e sinto-me bem. Como dizia a minha avó «presunção e água benta, cada um toma se quer». A foto é o que de mais perto exemplifica a cara da dita senhora. Morreu de velhinha, cheia de dinheiro e de vaidade, mas não levou nada consigo.

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