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A "auto-estrada" entre a Póvoa da Galega e a Venda do Pinheiro está quase pronta.

Pois é meus amigos vou ter que procurar outro percurso para as minhas caminhadas.

Aquele verdinho maravilhoso que eu de vez em quando vos mostrava, está a ficar de luto é o progresso, dizem os entendidos.

 Pessoalmente não tenho nada contra o progresso.

O progresso não tem culpa que eu tenha nascido quase há setenta anos.

O progresso não tem culpa de que eu tenha passado a minha infância a brincar por estes caminhos.

 O progresso não tem culpa de eu me lembrar dos medronhos que apanhava e comia, à espera de ficar bêbeda, mas nunca fiquei, o mais que acontecia era uma dor de barriga que se resolvia logo ao fundo do pinhal do Ti Agostinho Pirreta.

O progresso não tem culpa de eu me lembrar de ver o Ti Jacinto com os bois a lavrar no Casal Toucinho.

 Nem de ver o Ti António Fandango a pôr o chão a jeito para semear as batatas e os passarinhos atrás dele a comer os bichinhos na terra mexida.

O progresso não tem culpa de eu me lembrar do grupo de mulheres a ceifar o trigo no Casal do Hermínio e como elas cantarolavam entre si, quem canta seu mal espanta (diziam elas). E, o Ti Zé Joana a apanhar azeitonas, ó Rosita estica aí esse pano para as azeitonas não caírem no chão.

O progresso não tem culpa de eu me lembrar das horas que passava sentada no chão a ouvir os passarinhos cantar. Ó Pai aquele é um rouxinol? Ó rapariga não te disse já que o rouxinol canta ali nas canas à beira do rio logo de manhã? Ó pai e aquela é uma águia? Tás pior da perna ou quê? Não vês que é preto, é um corvo.

 Pois é verdade o progresso não tem culpa.

Mas agora a "talhe de foice" vou deixar uma pergunta.

Será que alguém com mais vinte cinco tostões de inteligência do que eu (não é preciso muito, já percebi que cada vez estou pior) me sabe explicar qual a utilidade desta estrada?

É que chegada ao Arneiro percebi que naquela passagem junto da casa da Ti Maria Alegre, não pode passar um carro por outro, e possivelmente nem passa um camião grande, então para que serve esta estrada?

 Eu quase que quero acreditar que é só por minha causa.

O progresso sabe que estou a ficar velhota e que sou muito teimosa, gostava muito de dar esta volta. Que a volta é um bocadinho grande, e assim como não gosto de alcatrão terei que escolher uma volta mais pequena.

Se foi isso está muito enganado, não, não vou por aí, hei-de encontrar outros cantinhos onde ele não possa chegar (por enquanto)

 A Póvoa continua a ter bons locais para se desfrutar da natureza, a minha mágoa é porque aquele era o "meu cantinho, a envolvência do meu açude"

Por ironia do destino a minha rua chama-se. Rua do Progresso. É obra.

A vida é isto mesmo. Temos que saber acompanhar, mas não é fácil.

Uma boa tarde para todos vós. Até logo se o pregador não faltar.



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