Ondina

Hoje ao ouvir o desabafo de uma amiga, e na impossibilidade de a conseguir convencer, de que tem que pensar nela e não se preocupar com opiniões de quem não tem o direito de as manifestar, fiquei a pensar nos " ditotes" da minha Mãe e de outras pessoas da sua idade que de uma maneira mais brejeira, nos sabiam dar bons conselhos.

Um deles, dito pela minha Mãe era que " só somos bons, até os nossos vizinhos quererem", agora percebo que os "vizinhos" são os nossos semelhantes, a pessoa pode durante uma vida inteira viver numa corda bamba, sempre a tentar manter o equilíbrio, para não escorregar, ninguém dá por nada, mas se escorrega, é uma alegria para quem vivia à espera de a ver cair.

Um cliente do café, com muita idade e muita sabedoria, um dia disse-me para eu não pensar em agradar a todos e muito menos em querer ser perfeita.

Contou-me algumas peripécias da sua vida, uns dias depois sem me esquecer da sua conversa escrevi esta história.

Era uma vez uma onda chamada Ondina

Numa noite linda de luar, nasceu uma pequena onda, filha da lua e do mar. Os pais não sabiam que nome lhe dar.

O sol ao vê-la tão pequenina e bela quis dar-lhe o nome de Ondina, iria ser o seu padrinho, olhar por ela e dar-lhe parte do seu brilho.

Ondina foi crescendo, muito protegida, muito bela e com a noção de que tinha que ser perfeita, era linda, tinha a luz da lua, a força do mar e o brilho do sol, tudo isto a levava a pensar que teria que alcançar a perfeição.

Um dia no meio de uma tempestade, pediu clemência ao seu pai, ao ver um barco cheio de homens, quase a naufragar, não queria desastre causados por si, foi difícil convencê-lo, a sua força era infinita, estava zangado com os homens, conseguiu chegar-lhe ao coração, demoveu-o da sua intenção de castigar os pobres pescadores que tentavam arranjar o seu sustento, ela sabia que os peixes eram seus irmãos, e os homens? A bondade venceu a força.

Ondina ficou feliz.      

De vez em quando descia lá bem às profundezas para levar as suas cores e o seu brilho aos seres que por lá habitavam, ficava muito feliz quando, os via saltar e brincar ao seu redor.

Ela dançava com eles, vestia-se de espuma, rodopiava, brilhava, a sua cor rivalizava com a cor do céu.

Continuava a sonhar em ser perfeita, e o tempo foi passando, sempre a fazer o que julgava melhor e perfeito.

Ondina queria um dia chegar à praia triunfal, cheia de força, vestida de espuma branca, com um brilho estonteante e ser recebida em festa.

Sonhou demasiado.

Quando chegou à praia já nada lhe restava, nada lhe pode valer.

Já não tinha a luz da lua, a força do mar, nem o brilho do sol, chegou apenas vestida com as suas vestes de espuma que se esvaíram na areia.

O sol escondia-se nas rochas, lançou-lhe um último olhar e disse-lhe apenas:

- Pobre Ondina perdeste o melhor do teu tempo na busca pela perfeição, algo que não existe.

 

Vamos tentar sempre dar o nosso melhor, sem nunca pensar em ser perfeitos, afinal parece que perfeição é uma palavra que nem sequer devia de existir no dicionário, por mais que se tente nunca se consegue agradar a "gregos e a troianos", portanto o melhor mesmo é não gastarmos as nossas forças na busca pelo impossível

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