Domingo

Era uma vez uma rapariga, que gostava muito de fazer perguntas, era muito curiosa (digo eu, porque a mãe dela dizia que ela era uma chata do pior).

Um dia perguntou à mãe quem é que tinha feito os dias, a mãe ficou a olhar e disse-lhe: Ó rapariga que raio de pergunta é essa. Ela insistiu: Quem é que escolheu o sábado, o domingo e os dias de feira? A mãe disse-lhe que quando o Senhor Prior fosse à escola (ia lá uma vez por semana, falar de religião e moral, lhe perguntasse, como se a rapariga fosse capaz de falar para o Senhor Prior como falava para a mãe.

Mas com tanta insistência a mãe quis saber a razão da pergunta, ela lá foi explicando que afinal o domingo era diferente dos outros dias, não havia escola, os homens não iam trabalhar (alguns, porque o pai dela ia trabalhar quase todos) a mãe mudava os lençóis das camas sempre ao sábado, porque no outro dia era domingo, tinha um trabalheira enorme a apanhar lenha e a acender o lume para aquecer água para toda a família tomar banho no sábado, porque no outro dia era domingo.

O filho da vizinha gritou com a mãe dele, queria as calças bem vincadas porque era domingo, dia de namorar.
As patroas vestiam uma roupa muito bonitas para ir à missa, porque era domingo.
As mulheres que vendiam tremoços e pevides também só vinham vender ao domingo.
No largo do Ti Jacinto Capado os homens jogavam ao chinquilho, porque era domingo.
Ela tinha ordem de ir ao café dos padrinhos, para ver a televisão porque era domingo.
A Tia Fernanda quando chegava das viagens e vinha trazer manteiga, goiabada e ananás, era sempre ao domingo.

Então com tanta coisa boa que se passava ao domingo, a rapariga queria saber a razão, de haver só um domingo na semana.
A mãe depois de estar farta de a ouvir acabou por lhe dizer: Eu não sei quem é que fez os dias, mas sei uma coisa, quem fez um, fez todos, e quando fores grande, vais tu fazer os teus dias.
Hoje a rapariga continua a agradecer à Mãe os seus ensinamentos, e sim, muitas vezes somos nós que fazemos os nossos dias.

Vem o destino, vem a vida, mas nós podemos sempre tentar fazer dos nossos dias, uns dias diferentes, se não conseguirmos, pelo menos tentamos, não se pode esperar por dias especiais, sejam sábados, domingos ou segundas-feiras, somos nós que os fazemos especiais, com os gestos as palavras, os sorrisos e até com as lágrimas que choramos, com o carinho que partilhamos, afinal é só isto que levamos da vida. Tudo o mais fica cá, e não serve para nada.

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