Clube Desportivo Povoense

            Na minha caminhada ao passar junto ao Campo do Açude, pertença do Clube Desportivo Povoense, parei uns segundos e "liguei" o motor de busca para ir há minha "caixa dos pirolitos" à procura das imagens que mantenho guardadas desde que me lembro daquele local. Primeiro um imenso pinhal, muito denso, por onde, dizia o meu avô, se escondiam os lobisomens para descansar das suas viagens nocturnas a Peniche e à Ericeira. Depois parece que foi ontem, os grupos de homens a cortar os pinheiros e a arrotear o mato, o meu pai fazia parte desse grupo e não me queria lá por perto, sempre prevenindo qualquer acidente, mas eu ficava de longe, gostava de ver os pinheiros a cair, parecia o fim do mundo, como eu gostava de ouvir aquele barulho que hoje entendo como um grito de morte, era isso mesmo, um ser vivo que morria. Logo a seguir, surgiu o morangal do Ti Jacinto Capado.

 

           Então aí dava gosto ver, o verde das folhas o vermelho dos frutos uma dança de cores, as mulheres e homens na apanha, e depois pelo caminho muitas vezes se iam arranjando alguns namoricos, que deram em casamentos, diziam as mães: A culpa era da cor dos morangos, faziam as moças coradas. E, assim se chega ao nosso Campo da bola. Um sonho realizado à custa de muito trabalho dos Povoenses teimosos que gostavam muito da sua terra, dos Povoenses que queriam que o seu Clube Desportivo Povoenses fosse o melhor da freguesia, que tinha duas equipas de futebol, que tinha acima de tudo, gente que abdicava dos seus dias de folga, depois de uma semana de trabalho, para trabalhar por amor à camisola e estar sempre a ser criticado por aqueles que nada faziam em prol da terra que os viu nascer. Mas isso faz parte da história da humanidade e eu já me habituei a lidar com essa situação, as acções ficam para quem as pratica. Depois de este desfiar de memórias, cheguei a casa e fui à procura de uns versos que escrevi no café, num domingo à tarde, numa daquelas tardes em que a Póvoa ficava vazia, toda a gente ia ver a bola, por companhia eu tinha o Ti Zé Portela, o Correia, o Augusto Agapito, e o Quital. Esses ficavam porque a idade e a paciência já lhes pediam para ficaram sentadinhos a jogar à sueca e a ralhar uns com os outros. Enquanto os ouvia ia escrevendo umas letras dedicadas aos nossos jogadores.

Somos Povoenses
E vamos mostrar
Quando se entra em campo
É para ganhar

Grandes e pequenos
Vão jogando à bola
Apenas por sentirem
Amor à camisola

Seja no Açude
Ou se jogam fora
Querem é ganhar
Quando chega a hora
 
Força nessas pernas
Vamos lá rapazes
Mostrem a essa gente
Do que são capazes
 
Somos Povoenses
E com muito orgulho
Uns jogam à bola
Outros fazem barulho
Se o adversário
Se arma em fanfarrão
Faz-lhe uma rasteira
E manda-o pro chão
 
Se o árbitro é maroto
E se porta mal
Toca a reunir
Faz-se um arraial
 
Agora é a sério
Eu estava a brincar
Temos que saber
Os outros respeitar
 
Somos Povoenses
Mas não queremos guerra
Saloios com orgulho
Cá pela nossa terra
 
Força Povoenses
Vamos apoiar
A rapaziada
Que nos faz vibrar.

 E assim partilhei convosco mais um pedaço das minhas memórias, tenho que aproveitar enquanto a "caixa dos pirolitos" vai deixando. Espero que gostem, eu tenho muito gosto em passar estes minutos na vossa companhia. Se recordar é viver, então vamos vivendo.


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