Dia dos Amigos


De tanto se falar no dia dos amigos, vou contar-vos um episódio, que aconteceu há cinquenta e muitos anos, a primeira vez que eu soube que havia um dia dedicado aos amigos. Chegou à minha terra uma professora, vinda dos Açores, que nos disse que por lá se festejava o dia dos amigos, e então, passou a ser festejado na nossa escola também, uma alegria para todos nós, os festejos eram muito simples, não tínhamos aulas depois do almoço, e iria lá uma senhora fazer um tacho de arroz doce, cada uma de nós teria que trazer um prato e uma colher - ainda não tinha chegado o plástico -,  e uma colaboração para o doce, umas traziam ovos, outras açúcar enfim entre todas arranjavam-se os ingredientes, depois da brincadeira, das cantigas, os pratos de arroz doce eram distribuídos pelas nossas carteiras, e cada qual comia o seu e até podia repetir, até aqui tudo normal, o pior foi quando uma colega, se lembrou de subir para cima das carteiras e correr até mandar os pratos ao chão, foram só quatro ou cinco até a professora dar por isso, e sabem porque é que ela fez isso? Porque podia comer doces todos os dias, porque não precisava de arroz doce para nada, e nem sequer conseguia perceber que muitas das que ali estavam, possivelmente nunca tinham comido arroz doce, eu sei que ela não tinha culpa de ter nascido numa família muito rica em dinheiro, tal como eu não tive culpa de nascer numa família que só era pobre no dinheiro, de sentimentos sim era rica, ela não tinha culpa, se a empregada lhe aí levar o almoço à escola, e tinha sempre fruta e doce, e quando não queria tudo, apesar da empregada lhe dizer:
- Se a menina não quer o bolo dê a uma colega.  Ela punha o bolo no chão e pisava-o, ela não tinha culpa, e se por acaso ela tiver conhecimento desta minha partilha,  - não que seja minha amiga no facebook, nem fora dele -, somos apenas da mesma idade e da mesma terra, mas até pode dar-se a coincidência de através de outros amigos ela tomar conhecimento, e aí espero que ela até se consiga rir e talvez até mostrar aos netos, quem sabe? Se eu não fiz uns versos disto? Fiz mas foram escritos por uma miúda de dez anos com tanta raiva que ainda hoje são "impróprios para consumo"nesta época não havia Bullying, nem traumas, e sabem o que dizia o Sr. Prior, que até estava presente? Perdoai-lhe Senhor, são crianças, não sabem o que fazem.
Ao recordar tudo isto os amigos devem estar a pensar que isto me marcou, sim bastante mas pela positiva, muito cedo aprendi a separar as águas, esta mesma colega, já eu estava no café e um dia teríamos trinta e tal anos, foi lá tomar o pequeno-almoço, e tratou-me por D. Rosa, e eu disse-lhe, se queres marcar a diferença chama-me o que quiseres, para mim nunca serás Senhora, Dona és sempre a «Maria» claro que não é este o nome, mas nunca mais me chamou de Dona.
Agradeço a todas estas vivências que me tornaram no que sou hoje, tentando sempre respeitar quem me respeita, mas sem nunca me deixar pisar.

Amigos para terminar devem estar a dizer para os vossos botões “ela daqui a pouco vai mas é pregar para a missa “quem sabe?

Esta foto foi tirada no ano em que eu soube que havia um dia das Amigas.





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