AZENHA DO TOMBADO
Fui à Azenha do Tombado
Recordei com nostalgia
As memórias do passado.
Fui e adorei.
Muitos parabéns a esta família, que decidiu "trazer de volta" a labuta dos seus antepassados.
Que maravilha, cada recanto, cada pedra, cada viga ou barrote uma história para contar.
Ao percorrer este espaço, quase que jurava que conhecia as pessoas que colocaram pedra sobre pedra, para o construir.
Ao ouvir a descrição da família, senti uma admiração enorme pela coragem, (principalmente dos mais jovens) ao alterarem as suas vidas, e deitarem "mãos à obra" para trazerem de volta à "vida" a Azenha e o Moinho do Tombado.
Sei que o progresso significa, grandes obras, muita tecnologia, muita modernice, mas como sou do "contra", para mim, progresso é isto, pegar no passado e trazê-lo para o presente, para que não se percam as memórias, para que no futuro os nossos descendentes, ainda possam perceber que a farinha não nasce dentro dos pacotes e que as águas dos rios chegaram a fazer mover estas rodas.
O meu Pai nasceu em 1918, com 8 anos foi "servir" para Calvos.
Nessa época os rapazes pobres iam servir, os patrões eram praticamente seus donos, ajudavam a tratar do gado, no campo faziam o que podiam! (ou o que não podiam, mas a isso eram obrigados) à noite dormiam no palheiro, perto do gado para estarem mais quentes no Inverno, e porque também eram os animais a sua companhia.
Raramente vinham a casa, a cama e mesa era o que ganhavam, mas mesmo assim a "mesa" muitas vezes era "passada por baixo", sabem o que isso quer dizer?
Pois é.
Olha rapaz hoje ficas sem ceia porque deixaste os borregos irem à horta do vizinho.
Era assim com a barriga colada às costas que se ia deitar na palha, com a esperança de que ao nascer do sol a patroa o chamasse e lhe desse uma caneca de café e uma fatia de pão, antes de ir para o campo com o patrão.
Mas há sempre um dia que a vida se lembra dos infelizes, e nesse dia um rapaz que "servia" noutro patrão, disse-lhe:
Quando conseguires, vai numa corrida à Azenha do Ti Tombado que ele dá sempre pão a quem tem fome, de Inverno tá na Azenha, de Verão tá no Moinho, o Ti Tombado, não sabe dizer não.
Ele assim fez, e não foi uma vez nem duas, e ficou eternamente grato ao Homem que não sabia dizer não.
Isto ouvi do meu pai, quando andava na escola, nunca me esqueci.
Hoje ouvi o bisneto do Ti Tombado, dizer que tem dificuldade em dizer não.
Afinal naquelas paredes ficou muito mais, do que pedra sobre pedra.
Ficou vida, ficaram sentimentos que atravessaram gerações.
A isto eu chamo "alimento para a minha alma".
São estes momentos que me fazem, viver, vibrar, sentir o coração bater mais forte.
Não contei ao bisneto este episódio, do meu Pai, mas vou contar-lhe um dia destes.
Saí de lá desejando que tenham toda a sorte do mundo, que realizem os seus sonhos, e agradecendo por saberem respeitar e honrar os seus antepassados.
Muito obrigada a esta linda família.
Vou voltar se a vida me permitir, para a próxima vamos ao Moinho do Ti Tombado, pode ser?
Duas "notas" que não quero deixar por dizer.
Primeiro.
Tristeza por ver o rio (sim é o Trancão) tão sujo e a levada sem água.
Segundo.
Uma alegria enorme porque não existe lá Internet, e nem rede para o meu telemóvel, estava eu toda embevecida com a conversa e nem dei pelo tempo passar, o padeiro aqui à porta a ligar para o telemóvel e eu? Eu estava muito bem a ouvir outro padeiro.
Desculpa lá Vasco, segunda-feira fazemos contas.
É isto meus amigos.
É a vida que passa e vai escrevendo as nossas histórias.
Espero que tenham gostado tanto de ler o meu testemunho, como eu gostei de partilhar convosco esta minha visita.
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