Nossa Senhora da Ajuda

 


Aqui às voltas com as minhas memórias lembrei-me que se aproxima o dia de Nossa Senhora da Ajuda.

Para quem não conhece, uma Santa com muitos devotos, não só aqui na zona, mas alguns de muito longe.

É festejada a oito de Setembro.

Vou contar-vos, como foi a minha primeira ida, à Senhora da Ajuda.

Já lá vão, uns anos bons, para não dizer, muitos, muitos.

Moravam perto de meus pais, uns vizinhos que tinham trocado o Alentejo, pela Póvoa, e sempre que precisavam de ir á sua terra natal, eu ficava encarregue, de lhes tratar dos animais, coelhos, galinhas e pombos, um dia cheguei lá para lhes dar de comer, e pensei que eles tinham ido "comer" fora, nem um animal lá estava, tinham sido roubados durante a noite, nem os pombos escaparam.

Os meus pais, claro ficaram aflitos, sentiram-se responsáveis, mas só na cabeça deles, porque os donos, nem por sombras tiveram dúvidas, mas o meu pai, com a aflição (isto foi em Agosto) prometeu ir á procissão da Senhora da Ajuda, se soubesse quem tinha roubado os animais, e como os ladrõzecos, eram três, depressa se descobriu.

Escusado será dizer, que o meu pai, foi pagar a promessa e fez questão de me levar, mas como miúda que era, aqui fica o que eu pensei na altura.

Não sei se é verdade que a fé é que nos salva, mas uma coisa é certa.

O meu pai, nunca mais passou um ano, sem lá voltar, só falhou no seu último ano de vida porque estava hospitalizado.


Nossa Senhora da Ajuda.
 
À Senhora da Ajuda
Eu fui ver a procissão
Se lá fui com muita fé?
Talvez sim, ou talvez não
Nunca gostei de promessas
Com medo de não pagar
Mas o meu pai prometeu
Eu fui para o acompanhar
 
Também serviu de passeio
Para isso estou sempre a jeito
Não sei se é da idade
Ou se é algum defeito
 
Tanto anjo, tanta asa
Tanto andor, tanto santo
O que mais gostei de ver
Foi tanto dinheiro no manto
 
A Santa vai com certeza
Pedir ajuda ao bombeiro
Não se vai aguentar
Com o peso do dinheiro
 
O meu pai também lá foi
Uma nota pendurar
Decerto bem se lembrou
Do que custou a ganhar
 
Diz que a fé é que nos salva
Prometeu tem que cumprir
E é se quer que na próxima
Ela o continue a ouvir
 
Nunca tal tinha visto
E agora fico a pensar
Se a Santa não come as notas
Onde é que elas vão parar?
 
Ó Santinha não te zangues
Se contigo estou a brincar
Gostei de te conhecer
E ainda quero cá voltar

Pois é amigos, isto para mim foi uma grande lição.
Ver a alegria do meu pai, quando se descobriu, quem tinha roubado os animais.
Uma imagem que nunca esqueci, e a fé que ele ganhou pela Senhora da Ajuda.
Os donos dos animais eram o Sr Rómulo, e a Sra. Candeias, grandes amigos, que deixaram muitas saudades, e com quem aprendi muito.
Os amigos do alheio, não vou divulgar, não que tenham por eles algum respeito, mas tenho pelos seus familiares.
Mais um pedaço de vida que gostei de partilhar convosco. 
 

( Imagens com cerca de 50 anos da autora, todos os direitos reservados)    

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